terça-feira, 10 de maio de 2011
Casa Mourisca
No romance Os Fidalgos da Casa Mourisca, Júlio Dinis conta o modo como um jovem nobre, Jorge, se atreve a envidar esforços para reerguer as finanças e a honra da família. O pai (senhor D. Luís), por preconceito “miguelista”, duvida da dignidade de tal desiderato, crendo que esse trabalho de gestão da Casa Mourisca estaria melhor nas mãos do padre residente, Frei Januário.
Quando, enfim, D. Luís permite que o primogénito assuma a condução das contas da família, percebe-se (confirma-se) que a contabilidade da Casa Mourisca é pouco clara, pouco rigorosa e, de modo geral, trágica. Frei Januário havia sido, até ser descoberto, um irresponsável gestor, mas alegremente impune e mesmo prestigiado.
Revelada a incompetência, começou a morosa, dificultosa e complexa empresa de salvar os fidalgos do opróbrio.
A fábula dinisiana teria muito por onde buscarmos lições sobre a contemporaneidade portuguesa. Detenho-me num aspecto apenas: só quando a ruína estava iminente é que D. Luís acordou para o problema de finanças da Casa Mourisca…
Viajando para o triste presente português, não tenho dúvidas sobre o nome do “Frei Januário” do nosso tempo: José Sócrates, evidentemente.
Mas, infelizmente, não acredito na possibilidade de o “Jorge” de agora ser Pedro Passos Coelho.
Estou pessimista. Não sei se a nossa Casa Mourisca é sequer salvável.
Ribeira de Pena, 10 de Maio de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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