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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Não há verdadeiro par sem dois uns


Abel Neves, dramaturgo e dramaturgista, verbaliza luminosamente (no livro Algures entre a Resposta e a Interrogação, Lisboa, Ed. Livros Cotovia, 2002) uma ideia que, embora contraditória na aparência, faz todo o sentido no Teatro: é conveniente que espectadores e actores estejam, à partida, separados – para, no momento oportuno, se dar o abraço entre uns e outros.
Não me é difícil estender a lição a outros universos, incluindo até o maior de todos, o Amor. É preciso que cada um dos dois de um par seja verdadeiramente único, pessoal, distinto (portanto, separado) do outro elemento – para, no momento oportuno, se dar o abraço entre ambos, e para que os dois eventualmente devenham um.
Desconfio, ainda sem conhecimento de causa (lagarto, lagarto!), que a falência de muitas uniões se explica por aqui: pode dar-se o caso de um dos constituintes do par não ser (ainda não ser ou já não ser) uma verdadeira pessoa, tornando assim impossível, no tempo oportuno, o abraço necessário e desejável com a outra que, correndo as coisas bem, seria o outro lado do par.
Pelo Teatro se explica também a vida, como se sabe.

Arco de Baúlhe, 24 de Maio de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho

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