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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Voz


Comemorou-se o "Dia Mundial da Voz" e alguns especialistas aproveitaram para divulgar as chamadas "profissões de risco" neste território do uso da comunicação oral. Na lista, lá aparecia, naturalmente, a profissão de professor.
A minha preocupação à roda desta questão não é recente. Contribuí, aliás, no presente ano lectivo, no seio do meu Agrupamento, para a organização de uma actividade versando a temática do uso da voz na profissão docente - e pude confirmar, na ocasião, a importância da prevenção e do tratamento de alguns problemas.
Já me aconteceu estar afónico por diversas vezes. Uma delas ocorreu há uns 30 anos, era eu ainda estudante universitário. Um grupo de jovens, cúmplices do prazer do café e dos livros (i.e., da vida), estava sentado à mesa do Tropical, em Coimbra. Lembro-me que, na nossa mesa, se discutia literatura francesa e preferências de modos e géneros literários. Eu tentei, por duas ou três vezes, entrar na conversa, mas o aparelho fonador recusava-se a servir-me o propósito, e tudo se me reduzia a um silvo patético e talvez risível. Resignei-me ao silêncio de ouvir. De certa forma, uma parte importante de mim, ali, inexistiu. Foi um dia de sofrimento, esse. A recuperação da fala apareceu-me só um ou dois dias depois, como uma libertação.
É também por isso que associo a ideia de liberdade à ideia de ter voz. 
E, já agora, quando gratamente falo de Abril, estou a falar porque quero, porque gosto e porque posso. Quero dizer: porque sou livre!

Coimbra, 17 de Abril de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.bocaderua.co.br.]

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