Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

domingo, 25 de novembro de 2012

Lógica da terra & lógica do céu

1. Ouvi uma vez mais certa abóbora disfarçada de jovem a defender, na televisão, a extinção das SCUT. Quem quer estradas boas, defendeu, paga-as.
Eis a lógica tão moderna, tão cheia de gel e de desassombro neoliberal: as estradas más, lentas, perigosas – são para os pobres. As boas são para os outros.
Ora, há nisto, concedamos, uma certa lógica mundanal.

2. O líder do grupo parlamentar do CDS-PP incomodou-se com a linguagem de um deputado do PCP sobre o “roubo” dos subsídios aos funcionários públicos e aos pensionistas. (“Roubo” foi a palavra usada pelo deputado comunista; é também a que costumo utilizar quando me refiro ao assunto. Roubo, isto é, roubo, ou seja, roubo, quero dizer – roubo!)
Já o senhor primeiro-ministro, há tempos, se insurgira contra esta linguagem, coitadinho.
Curiosamente, poucos parecem escandalizar-se com o facto de notáveis engravatados e cínicos em geral falarem do povo português como uma gente que viveu, durante décadas, “acima das suas possibilidades”.
Haverá também nisto, especulo, alguma espécie de mundanal lógica.

3. A minha contemporaneidade é politicamente um tempo nojento. Os que nos matam – ora mais à bruta, ora mais subtilmente – hão-de, estou certo, morrer impunes. Mas eu, perdoai as virgens da situação, vou à linguagem dos meus avós e desejo isto: que os responsáveis pelas políticas que temos, hoje, ardam um dia (nem que seja daqui a cem anos) nas profundezas do inferno.
Justiça poética, compreendeis? Ou, dito de outro modo, espécie de lógica divina.

Coimbra, 24 de Novembro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.oclarinet.blogspot.pt.]

1 comentário:

Patrícia disse...

Nem mais... Que ardam um dia nas profundezas do inferno!!!