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Número de Ondas

domingo, 18 de novembro de 2012

A Sabedoria fora das bibliotecas

A minha amiga Olívia Sofia ofereceu-me recentemente, não pela primeira vez, um livro precioso. Título: História do Sábio Fechado na Sua Biblioteca. Autor: Manuel António Pina.
Como em tantos outros casos, Manuel António Pina escreveu um livro para adultos disfarçado de livro para crianças – ou, no mínimo, um livro para toda a gente disfarçado de livro para gente mais pequenina.
A lição no conto é muito simples: a verdadeira sabedoria está na vida. Voilà!
Na vida, expliquemo-nos, vivida, experimentada, feita de cores e cheiros e pele e vozes e animais e plantas e força e doença e amores e lutas e solidão e desertos e água e, sobretudo, de humanidade (que é tudo quanto há no nosso olhar consubstancial).
Um sábio desce da sua biblioteca (espécie de torre de marfim onde é suposto existirem todas as respostas sobre o que o mundo e a vida são) e descobre a vasta ignorância que há, afinal, nestes infinitos livros divorciados da rua, das gentes.
A História do Sábio Fechado na Sua Biblioteca confirma: não há verdadeira sabedoria sem humanidade. (É claro que, para mim - e decerto também para Pina – tão-pouco haveria humanidade sem a sabedoria dos livros. Adiante.)
Atrevo-me ainda a ver, nesta formosa moralidade do imorredoiro M. A. Pina, um murro nos queixos de governantes que trocam as pessoas por fanáticos números em Excel; uma bofetada nos catedráticos que trocam a intervenção na sociedade pelo olimpo chique de convenções amestradas; uma sova nos teóricos e curiosos da educação que trocam a realidade por obscenas demagogias sem coração nem vergonha.
A vida sabe mais dos homens que os livros, diz-lhes (diz-nos) Pina.
E não deixa de ser irónico que o genial autor no-lo diga em livro

Ribeira de 17 de Novembro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho

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