quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Dara Perdida
A Dara viveu com a minha família durante cerca de 13 anos. Partilhou connosco os rigores invernosos de Ribeira de Pena, o majestoso areal da Figueira da Foz, os parêntesis com relva da minha Coimbra asfaltada, o enjoo das viagens entre Trás-os-Montes e a Rua Dr. Manuel Almeida e Sousa, a minha voz resmungando-ralhando, a Vaninha nos meus braços como bela adormecida, a lareira dos Dezembros crepitantes, o azulejo fresco da casa coimbrã, as gargalhadas, os silêncios. A Dara foi parte da minha família.
Morreu em 2008, após longo sofrimento que nos matou, também, a todos vendo-a morrer.
Às vezes, revemo-la sorrindo, numa fotografia, com aquele sempiterno ar de adolescente desvairada e ternurenta. É então que Dara significa, em nós, o que outras perdas preciosas significam: saudade.
A saudade é, portanto, uma cadela. É bonita. Apetece afagá-la. Lambe-nos. Ladra-nos. Uiva.
Arco de Baúlhe, 03/12/2010.
Joaquim Jorge Carvalho
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2 comentários:
É bom haver alguém que consiga transmitir para palavras aquilo que alguns sentem... E, sem dúvida, revejo-me em cada canto de cada palavra que escreveu :) *Marta
Beijinho, Marta. Volte mais vezes a este Mar.
JJC
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