O pai, que tinha vindo da oficina para almoçar, apercebeu-se da fome do pássaro e perguntou:
- José, já deste comida ao bicho?
O interpelado suspirou, muito blasé, atento ao telemóvel e não respondeu.
O pai voltou à carga, já menos calmo:
- O animal precisa de comer e é tua obrigação alimentá-lo. Deixa lá o telemóvel por um momento e dá-lhe comida.
Respondeu o filho, espreguiçando-se e nem se dignando a mirar o patriarca:
- Não é um telemóvel que se diz. É iphone. E, já agora, quando te referires ao meu canário, deves chamar-lhe Tempo. Foi esse o nome que eu e a Hélène lhe pusemos.
O pai foi à gaiola do canário, abriu a porta e a ave fugiu. O filho ficou sem palavras, por segundos, asfixiado pela indignação. Finalmente, explodiu:
- Que raio fizeste tu, pai?
O pai nem o mirou enquanto lhe respondia:
- Ó filho, sabem bem que o Tempo voa.
Ribeira de Pena, 06 de Janeiro de 2019.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em https://www.pt.depositphotos.com.]
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