Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

O pássaro académico

Um jovem universitário, muito amado pelos pais, deu em sentir-se, ao segundo ano da faculdade, melhor do que toda a gente, a começar pela gente lá de casa. Chamava boçal ao irmão, venal ao pai e simples (no sentido de coitadinha) à mãe. O pai do universitário foi o primeiro a detectar estas doutorices no filho mais novo. Certo dia, aconteceu na casa do agregado, a um Sábado, que o universitário se esqueceu de alimentar o canário, ave trazida por ele próprio e oferta de uma namorada francesa. 
O pai, que tinha vindo da oficina para almoçar, apercebeu-se da fome do pássaro e perguntou: 
- José, já deste comida ao bicho? 
O interpelado suspirou, muito blasé, atento ao telemóvel e não respondeu. 
O pai voltou à carga, já menos calmo: 
- O animal precisa de comer e é tua obrigação alimentá-lo. Deixa lá o telemóvel por um momento e dá-lhe comida. 
Respondeu o filho, espreguiçando-se e nem se dignando a mirar o patriarca: 
- Não é um telemóvel que se diz. É iphone. E, já agora, quando te referires ao meu canário, deves chamar-lhe Tempo. Foi esse o nome que eu e a Hélène lhe pusemos. 
O pai foi à gaiola do canário, abriu a porta e a ave fugiu. O filho ficou sem palavras, por segundos, asfixiado pela indignação. Finalmente, explodiu: 
- Que raio fizeste tu, pai? 
O pai nem o mirou enquanto lhe respondia: 
- Ó filho, sabem bem que o Tempo voa. 

Ribeira de Pena, 06 de Janeiro de 2019. 
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em https://www.pt.depositphotos.com.]



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