A poesia
serve para quê?
Estive, há
dias, em duas escolas de Anadia, a convite de uma querida Amiga, para falar de
poesia. A minha comunicação, destinada a alunos do 7.º ano de escolaridade,
intitulou-se “A poesia serve para quê?” e procurou, como retoricamente se
adivinhará, equacionar o interesse e a utilidade do texto poético.
Falei-lhes
de linguagem (capacidade eminentemente humana de comunicar), de língua (código,
sistema de signos), de fala (mar onde desaguam os dois conceitos anteriores, i.e., uso competente e eficaz
das palavras). Disse-lhes que, como os computadores, o nosso cérebro
apre(e)nde, todos os dias, novos vocábulos, e que os vocábulos servem para
diferentes níveis de comunicação verbal: um imediato, feito sobretudo de
informação utilitária, de fins essencialmente práticos; outro mais complexo e
misterioso, que envolve a expressão profunda de ideias e emoções e a
concomitante percepção, por quem escreve e por quem lê, de instantes de
absoluta Beleza e de absoluta Verdade.
Expliquei-lhes,
com exemplos, que a Língua com que adquirimos batatas é, no fundo, a mesma com
que dizemos o amor, as angústias, a esperança, os medos, os sonhos, a urgência
de ser feliz. E lembrei-lhes que só o uso competente, sábio, estético do idioma
alcança os patamares de sentido que sobem (ou descem) realmente ao caroço das
coisas.
Através de
um pequeno jogo leitor, que pôs a dialogar um pequeno texto narrativo com
apontamentos (em verso) sobre a acção relatada, o público percebeu o alcance -
a utilidade, o interesse - da poesia enquanto linguagem capaz de dizer segredos
d’alma, discursos que vão além (ou aquém) da casca vulgar dos dias.
Recordei,
uma vez mais, aquela espécie de refrão que amiúde ouvimos nos telejornais,
quando as pessoas, em paroxismos de infelicidade ou nos píncaros da alegria
mais pura, confessam a dificuldade de descrever o que sentem e dizem: ”Não há
palavras!”. Assegurei-lhes que há, sim, palavras, mas que têm de ser especiais,
originais, profundas, condignamente carregadas de emoção e de beleza.
No final da
sessão, uma menina pediu à sua professora que a levasse à minha presença. Para
– disse-mo depois – me cumprimentar e me agradecer a sessão. E eu, que sou
pobre em quase tudo menos em livros e gente querida, respondi-lhe ali com a
máxima espontaneidade: “Eu é que agradeço.”
Ribeira de
Pena, 31 de Maio de 2016.
Joaquim
Jorge Carvalho
[Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de
02-06-2016.]
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