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Número de Ondas

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Surrealismo doméstico


O governo explica cinicamente que o assalto feito, pela via dos impostos, visa afinal um propósito bondoso: acudir às necessidades do Estado. A retórica compreende uma delicada noção – a de que é legítimo optar por esta brutidade em determinado contexto de urgência e desespero.

Espera-se que esta tese faça o seu caminho. Os que, por falta de dinheiro, não estejam capazes de fazer face aos seus compromissos (casa, cartões de crédito, transportes, alimentação), à luz do superior ensinamento tutelar, assaltarão talvez bancos e supermercados, fugindo depois em táxi ou autocarro por aí à mão – sem pagar, naturalmente.

 
Arco de Baúlhe, hora d’almoço, 12 de Outubro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.delagoabayword.wordpress.com.]

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

Não há nada tão mau que não possa piorar: eis um aforismo comprovado pelo tempo. O limite do tolerável está, de certo modo, sempre mais além, como o horizonte. Nos guetos durante a ocupação nazi, os «conselhos judaicos» que administravam o gueto e as cumpriam ordens do ocupante eram forçados a fazer opções brutais: aceitar ou não o «cargo» e ser fantoche dos nazis a troco de uma relativa segurança pessoal, entregar um resistente para ser fuzilado ou arriscar uma matança em represália, decidir quem teria direito a comer e quem passaria fome, escolher quem seria levado amanhã para o campo de extermínio e quem seria poupado mais uns tempos.
Com as devidas distâncias e óbvias diferenças, os nossos políticos (não só os que governam (?) mas também os que se lhes opõem)assemelham-se a esses conselhos judaicos, e nesta farsa os nazis são representados pelos mercados financeiros globais e seus agentes.
Como nos guetos, as exigências do ocupante crescem sempre e nada os satisfaz, é preciso ir ainda mais além, sempre um passo mais adiante a caminho do despojamento absoluto de bens e de dignidade.
Não haverá, felizmente, para nós uma «solução final», porque há-de haver um dia D ou um Exército Vermelho metafórico a caminho, assim que as consequências se tornarem suficientemente chocantes. O clamor vai crescendo e conquistando apoios mesmo em sectores insuspeitos. Espero é que a democracia, a paz internacional e os aspectos mais positivos da sociedade sobrevivam ao abalo que se anuncia. Pode ser.
Um abraço.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Me too!
Espero que a liberdade, a democracia e a solidariedade humanista sobrevivam à indignação que perigosamente cresce à nossa volta (e dentro de nós).
Abraço!