sábado, 28 de agosto de 2010
O Sol é de quem
Este sol é meu, disse o senhor Fidalgo, cioso da luz recém-nascida.
Tementes do poder aristocrático, os velhos faziam de conta que não sentiam os dedos solares beijando-lhes graciosamente a velhice.
Uma criança, contudo, saiu daquele bolor obediente e gritou (repetindo o murmúrio do próprio avô): O sol é de todos.
O senhor Fidalgo hesitou entre o silêncio e o escândalo da indignação verbal. Optou por soprar como um touro poderoso e seguir o seu caminho, na pose proprietária de quem mede o seu tesouro pessoal, ameaçando com o olhar quem se atrevesse a usufruir do sol.
À passagem do o auto-proclamado dono da luz e do calor, a criança repetiu: O sol é de todos - e soltou até um traque admirável para tão jovem organismo.
Os velhos não se contiveram e por toda a praça se escutou uma gargalhada antiga e livre. O senhor Fidalgo disse: Que pouca vergonha, que pouca vergonha.
E os habitantes da vila regressaram, sem medos nem pudores, ao aconchego daquele sol.
O sol, não sei se vós já percebestes, é (mesmo) de todos.
Machico, 25 de Agosto de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, co a devida vénia, em http://blolog.globo.com.]
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