Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Elogio da Rotina


Confirma-se: amo a rotina. Tanto que a construo a meu modo, como se no meu dia eu fosse o próprio Deus fazendo as estações, o atlas quotidiano dos passos, os cenários, os actores contracenantes de mim.
Levanto-me nunca antes das 11, às vezes mais tarde. Cumpro a ginástica e a higiene, cumprimento quem vive à minha roda (isto inclui os mortos) e sigo, só, para o centro da cidade. No edifício Perestrelo, compro o jornal, tomo um garoto e como um curto bolo para desjejum.
Leio exaustivamente notícias, crónicas, anúncios. Saco, a seguir, de um capítulo da tese e re-vejo, re-corrijo, re-re-revejo, re-re-recorrijo, num ofício de formiguinha míope que combate gralhas, verborreia, redundâncias e repetições.
Pelas 14h30m, já caminho rumo à praia. Levo na mochila o a habitual garrafa de água, a queijada madeirense e um livro (à falta de outro combustível, alimento-me da obra camiliana que gostosamente revisito).
Antes de a MP se me reunir, hei-de ter tempo de um ou dois mergulhos no mar, de telefonar para a minha Mãe, de me oferecer alguns capítulos romanescos, de um ou outro verso trazido pela brisa.
Pelas seis e meia, regressamos a casa, talvez parando no Café junto à igreja para um sumo. A meio do caminho, entramos no Pingo-Doce e recolhemos pão, água, fruta.
À chegada, conversa em família, na sala (ou nas escadas, para aproveitar os últimos dedos do sol morrente). Pelas oito da noite, ouço os títulos do telejornal e saio para correr durante vinte minutos.
Segue-se o banho e, pelas nove da noite, o jantar. E, nem meia hora após, um tranquilo passeio até ao Café para a “bica” nocturna.
Serão adentro, a televisão-lareira: “Conta-me como foi” ou “Aqui não há quem viva”, numa primeira etapa; o “5 para Meia-Noite”, em conclusão.
Até madrugada, o computador: dactiloescrevo as correcções na tese e, mais raramente, consulto email e actualizo o “Muito Mar”.
Nunca adormeço antes das 3 da madrugada.
O dia seguinte, se os céus deixarem, há-de ser como este. E isso nunca é, visto do lugar onde me encontro, mau.


Machico, 18 de Agosto de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi recolhida, com a devida vénia, em http://www. joaokepler.blog.com.]

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