Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Olá, como cais


Um homem começa a cair, desde que nasce, por um abismo irregularmente sujeito à força da gravidade. Não bem cai: vai caindo. Os segundos, os dias, a vida são unidades para medir a viagem, abismo abaixo.
Às vezes, parece que não caímos. É quando a sorte nos afaga o coração: um sorriso muito lindo de mulher; um telefonema com boas notícias; uma gaivota ao longe cabriolando sobre o Atlântico; um livro com ricas histórias e linguagem nova; a ingénua esperança de que há vida antes da morte (como sonhava Heaney).
Outras vezes, a queda é evidente e bruta como um cabo fascista: a velhice, a doença, a lonjura, as despedidas, a anorexia bancária do agregado, o fim de agora.
Deixemo-nos de merdas: é preciso o amor. É preciso suceder algo de grande durante a queda, para a gente acreditar que não há queda. Ou para a gente acreditar que há ainda muito por cairmos antes do chão final.

Machico, 13 de Agosto de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida – com a devida vénia – em http://www.cyberdemocracia.blogspot.com.]

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