Asnos
do volante
Há-os
de todas as idades e feitios: betinhos imberbes conduzindo os carros dos papás
ao fim-de-semana; murchos maduros compensando os fracassos talâmicos com
acrobacias motorizadas; gente pobre (de recursos e de inteligência) sublimando
o insucesso escolar e profissional com conspícuos êxitos no mundo do crime;
elegantes diletantes fazendo selfies mentais ao espelho do retrovisor e
desprezando sinais de stop (ou quejandos); novos-ricos exibindo, com
ruído e parolice metalizada, a sua novidade-riqueza; bêbedos rodoviários
cambaleando por ruas e estradas, naquele autismo demencial dos kamikazes;
turbas auto-pecuárias ignorando, sem sombra de remorso, as regras do trânsito. Etc.
Tantas
vezes já fui obrigado, perante a ultrapassagem assassina de uma besta, a
meter-me por uma valeta, assim evitando, por milésimos de instante, o choque
mortal. Ocorre-me que o porco ao volante do carro homicida esteja, daí a 30
minutos, na tasca do seu quotidiano rasca, vangloriando-se de seus feitos
recentes: “Sabes quantos minutos fiz de Santarém até aqui, ó Zacarias?”
Não
chega, hoje, aconselharmos os nossos filhos a respeitar as regras e a conduzir
prudentemente. É preciso também ter sorte e rezar para que não se cruzem com os
avulsos, venenosos, perigosos energúmenos da estrada.
Um
dos meus pesadelos é ser vítima destes terroristas em versão fait-divers
e não ter sequer tempo (sobrevida) para lhes dizer o Nojo que por eles nutro.
Pelo sim, pelo não, deixo-o aqui dito. Aqui escrito.
Coimbra,
03 de Abril de 2016.
Joaquim
Jorge Carvalho
[Esta
crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 07-04-2016.]
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