Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quarta-feira, 13 de abril de 2016

ZONA DE PERECÍVEIS (34)



 

 
Asnos do volante

 Não é novidade: estamos todos à mercê do terrorismo. Mas a praga não se reduz ao mediático inferno de fundamentalismos religiosos, políticos, familiares, clubísticos, ou à crueldade amoral dos gangues da droga e das armas. Ao longo de quase trinta anos de carta de condução, tenho-me cruzado com terroristas do volante, mal escapando dos seus ataques traiçoeiros, soezes, imbecis. 
Há-os de todas as idades e feitios: betinhos imberbes conduzindo os carros dos papás ao fim-de-semana; murchos maduros compensando os fracassos talâmicos com acrobacias motorizadas; gente pobre (de recursos e de inteligência) sublimando o insucesso escolar e profissional com conspícuos êxitos no mundo do crime; elegantes diletantes fazendo selfies mentais ao espelho do retrovisor e desprezando sinais de stop (ou quejandos); novos-ricos exibindo, com ruído e parolice metalizada, a sua novidade-riqueza; bêbedos rodoviários cambaleando por ruas e estradas, naquele autismo demencial dos kamikazes; turbas auto-pecuárias ignorando, sem sombra de remorso, as regras do trânsito. Etc.
Tantas vezes já fui obrigado, perante a ultrapassagem assassina de uma besta, a meter-me por uma valeta, assim evitando, por milésimos de instante, o choque mortal. Ocorre-me que o porco ao volante do carro homicida esteja, daí a 30 minutos, na tasca do seu quotidiano rasca, vangloriando-se de seus feitos recentes: “Sabes quantos minutos fiz de Santarém até aqui, ó Zacarias?”
Não chega, hoje, aconselharmos os nossos filhos a respeitar as regras e a conduzir prudentemente. É preciso também ter sorte e rezar para que não se cruzem com os avulsos, venenosos, perigosos energúmenos da estrada.
Um dos meus pesadelos é ser vítima destes terroristas em versão fait-divers e não ter sequer tempo (sobrevida) para lhes dizer o Nojo que por eles nutro. Pelo sim, pelo não, deixo-o aqui dito. Aqui escrito.
 
Coimbra, 03 de Abril de 2016.
Joaquim Jorge Carvalho
[Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 07-04-2016.]

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