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domingo, 29 de maio de 2016

In memoriam Senhora Dona Lurdes Monteiro


A senhora Dona Lurdes Monteiro, vizinha e Amiga há 53 anos, partiu. Há menos de um ano, partira já o senhor Luís Monteiro, seu marido. Há mortes que são ainda mais a Morte. Não é só de mortalidade que falo. Falo, compreendei, do desaparecimento de gente essencial que faz parte da paisagem que nos rodeia desde sempre. Pedaços de permanência que afinal não. Eternidade que afinal sofria também de finitude.
A Dona Lurdes era, em primeiro lugar, uma amável Senhora porque - percebi eu - era Amiga de minha Mãe. Depois, porque era culta, bondosa, serena, sensata. Amiga de meus irmãos. Minha Amiga também. Devo-lhe, entre outras dádivas, o alimento literário que, em boa parte, fez de mim o leitor que sou - e talvez o escritor (ou escrevinhador) que não consegui deixar de ser. Emprestou-me muita literatura. A imagem que ilustra este texto é a de um livro que me ofereceu (na verdade, o meu primeiro livro "a sério"). Ao meu irmão Tó, na mesma ocasião, ofereceu A Ilha do Tesouro, do Stevenson, que eu igualmente li e que, ai de mim, preferi a todos os outros que até ai lera.
A Dona Lurdes foi também verdadeira Amiga da MP e da nossa filha, a VL.
E é à minha Vânia Carvalho que vou buscar um belo texto. Linhas que formosamente falam, por todos nós, sobre a dor que é ver partir alguém como esta Senhora. Dou-lhe a palavra, com o seu consentimento, para dizer adeus a uma grande Amiga.


"Hoje é um dia muito escuro. 
Há uma senhora, da minha infância, da minha adolescência, da minha juventude, que sempre teve um orgulho quase de avó em mim. Uma verdadeira Senhora, outrora professora primária, vizinha-amiga daquelas à antiga, que rejubilava com cada feito pessoal e académico meu. Que fez questão de ser ela a oferecer-me a minha pasta académica que durante tantos anos me acompanhou. Que fez questão de me oferecer as fitas. Que fez questão de, quando me formei, me chamar a casa dela e dar-me flores e um abraço genuinamente emocionado.
Essa senhora partiu. Mas eu vou continuar a dar-lhe motivos de orgulho. Adeus, Dona Lurdes."

[Facebook, 29-05-2016.]

Coimbra, 29 de Maio de 2016.
Joaquim Jorge Carvalho

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