Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

quinta-feira, 3 de março de 2016

Amor residente (O Viúvo de Em Nome da Terra, de Vergílio Ferreira)


Trouxe-te flores.

Não sei o nome delas

E não me custaram dinheiro.

Adivinhas: vim pela rua abaixo

Roubando uma aqui, outra além

Das casas ricas por que passo

Até à nossa casa.

Se viesses hoje

Sentirias o odor logo à porta

E sorririas decerto à festa colorida

Das cores e dos tons do meu ramo.

Talvez me beijasses e dissesses

Meu amor

Como outrora fazias.

Os amigos dizem que já não voltas

E eu faço de conta que concordo -

Mas depois venho para nossa casa

Roubando flores pelo caminho

E falo contigo.

Há sempre flores sobre a mesa

Iluminando de ti a solidão.

Não é bem esperança; é uma morada.

Eu resido para sempre no nosso amor.

E mesmo que não venhas

É esta para sempre a minha Casa.


Arco, 16 de fevereiro de 2016.

Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (que terá inspirado o título da obra de Aquilino, A Casa Grande de Romarigães) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.bloguedodominho.blogs.sapo.pt.]

2 comentários:

Anónimo disse...

"Há sempre flores sobre a mesa/Iluminando de ti a solidão."
Belos versos! Belo livro!

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Duas exclamações para duas exclamações:
Muito obrigado!
&
Sem dúvida!

JJC