Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ZONA DE PERECÍVEIS (13)

Ser assim ou assim-assim

  Fernando Paulouro Neves, na sua última crónica de “Notícias do Bloqueio” (na página 4 d’O Ribatejo), fala do caso Luaty Beirão com lucidez e elegância exemplares. Sobre esta situação concreta, portanto, não carece o jornal da minha prosa.
  Mas o caso remete-me para uma questão ética e moral (ainda) mais lata e profunda, passe a presunção: a do dever a que cada indivíduo está ontologicamente obrigado perante certos dilemas - momentos em que, digamos assim, não há direito a opções cinzentas, ao conforto do advérbio “talvez”, à prudência do adiamento, à cobardia da invisibilidade ou da indiferença.
 Temo que, ao contrário do que celebra Manuel Alegre na Praça da Canção, nem sempre haja alguém que, no momento certo e necessário, diga “Não” (ou “Sim”, conforme o contexto). Perante o extremo sofrimento físico e psicológico, que faria cada um de nós? Entre o emprego e a dignidade, entre a segurança e a liberdade, entre a refeição e a razão, entre a verdade e a sobrevivência – o que escolheria, se tivesse mesmo de escolher, cada um de nós?
 Ora, como diz certa personagem de Felizmente há luar!, de Luís Sttau Monteiro, há homens que se destacam da maioria e, pelo seu exemplo, nos obrigam a olhar ao espelho de nós próprios.
  Heróis como Luaty ajudam-nos a perceber o que, para além do que somos, poderíamos (deveríamos?) ser. Porque às vezes a vida cansa, mas um homem dança. Às vezes a meta não se vê, mas um homem crê. Às vezes o chão magoa, mas um homem voa. Às vezes o percurso é triste, mas um homem resiste. Às vezes não há caminho, mas um homem faz o caminho.


Ribeira de Pena, 02 de Novembro de 2015.
Joaquim Jorge Carvalho
 [Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 05-11-2015. As últimas frases do texto inscrevem, na presente prosa, versos de um poeminha meu já publicado em “Muito Mar”, “Viver apesar de”.]

3 comentários:

Anónimo disse...

Li num livro, não conseguindo precisar com exactidão o título e o autor, que para chegar à totalidade é preciso que todo o ser esteja nisso comprometido. Que bom seria se cada um de nós se olhasse ao espelho de si próprio! Que bom seria se cada um de nós se comprometesse!

Anónimo disse...

Quando conhecemos Alguém com imenso valor, para além do talento, percebemos que o elogio direto e muito claro é estreitinho e quase redutor de tanta imensidão!... Obrigado, Professor, pelo que transmite pela palavra e pela Ação!

M.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Agradeço a lucidez e a bondade dos comentários.
(Já agora: gostaria que, por favor, assinassem os comentários, de modo a saber com quem "falo"... Thanks!)