1.
É
uma menina muito linda, sempre com um sorriso cheio de luz no rosto e nos
gestos. Vive com a tia, porque os pais pereceram há uns anos num acidente
rodoviário. Está no 9.º ano de escolaridade: é boa aluna e pratica desporto.
2.
A
tia é, como eu, professora. Dá aulas a alunos do primeiro ciclo. Dadas as
circunstâncias, ela vê aquela miúda tão sua filha como a que deu à luz. As duas
pequenas não são, portanto, primas - são irmãs. Jogam ambas futebol de salão no
Grupo Desportivo de Ribeira de Pena e estão quase a terminar o ensino
secundário.
3.
Vai
para a universidade e lamenta-se, sorrindo embora, por não haver emprego que
lhe permita fixar-se, um dia, na vila onde cresceu e onde, com frequência, nos
cruzamos.
4.
Vejo-a
(salvo erro, em Vila Real), já com ar de senhora crescida, mas sempre alegre e
fresca como uma brisa de Primavera. Está quase licenciada e depois fará
mestrado, como é costume nos dias que correm.
5.
É
mestre já, na área de Fisioterapia. Vai para o estrangeiro à procura de
trabalho. Disse-me, sorrindo como aquela aluna do 9.º ano, há uns anos, que a
nossa casa é onde estivermos bem.
6.
Está
no hospital, no Porto, disse-me a minha mulher. Tem uma doença grave, mas
“aquilo” parece estar circunscrito e, em princípio, salva-se.
7.
Morreu
hoje, aos 4 de Novembro de 2015. Complicações inesperadas, disseram-me. Vou amanhã,
com a minha mulher, ao funeral, ambos atordoados e indignados com o brutal
cinismo do Inverno.
8.
A
Carla é (para sempre) uma menina muito linda, com aquele sorriso de luz. Ainda
que me chamem doido, não saio desse Presente.
Ribeira de Pena, 04 de Novembro de
2015.
Joaquim
Jorge Carvalho[Esta crónica foi publicada no semanário O Ribatejo, edição de 11-11-2015.]
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