sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Neuro-meteorologia
Ouço o rumor fascista da chuva
E depois vejo a paisagem morrendo
Sob a lágrima outonal
Em mim.
A depressão aparece em forma de gotas
Mas é gasoso o seu abraço seguinte
Pele e coração adentro
Serpenteando.
O fim do Verão é um veneno mortal
Este vento sou eu gemendo as saudades
Da praia feliz e da limpa luz
De Coimbra.
Ribeira de Pena, 26 de Setembro de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.doyoudrinkcoffee.blogspot.com.]
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2 comentários:
Parece-me que há aqui uma fatal contradição: primeiro afirmas que gostas do Outono; depois, chamas fascista e outros mimos à chuva outonal.
Aliás, antes de chegar a tal chuva «fascista», o céu, pelo menos aqui pelo Noroeste, nada tinha de luminoso; era, pelo contrário, uma sufocante nuvem de cinzas e uma cruel capa cinzenta que nem deixava abrir as janelas para deixar sair a canícula. Agricultores, bombeiros, pastores, muitos devem ter rezado por um belo aguaceiro. A chuva é a bênção que faz frutificar a terra; se nos incomoda e entristece o ânimo, paciência. Os irlandeses têm-na dia sim dia não, e contudo são dos povos mais joviais e musicais que conheço.
É como o nosso Outono pessoal: tem que vir, para que outras sementes desabrochem.
(Sei bem, no entanto, que a poesia não é um ensaio académico)
Abraço!
Obrigado, Paulo, por vistares o Muito Mar e aqui deixares um pertinente comentário.
O que, neste texto, pobremente postulei foi d dor (lingrinhas, concedo) de o não ser (já) Verão. Acresento: eu não gosto do Outono, "sou" é profundamente do Outono, no sentido lírico-mental em que transporto, desde menino, uma violenta noção do Fim avisando-me do Fim, do Fim inexoravelmente chegando. Fim de pessoas que amo, de árvores, de um campo de futebol na minha rua coimbrinha, de Manuel António Pina, de uma certa ideia de Abril.
De modo que, sim, fui à janela e havia uma chuva "fascista" e eu, sincero como um pássaro assustado, denunciei-a - em verso.
Tirando tudo isto, estou solidário com os pastores, os bombeiros e os irlandeses, embora desconfie que há nestes últimos muito mais melancolia do que o teu ensaio sugere (Joyce, Heaney...).
Abraço.
JJC
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