Ouço, durante algum do entardecer, à mesa de um Café, certo velho queixando-se dos governantes: o roubo de reforma, os serviços cortados na vila, o preço dos medicamentos, a filha desempregada. Percebo que há ali um crescendo lírico-nervoso. O homem acaba mesmo por desabafar, numa espécie de nostalgia revolucionária:
"Isto era pegar no governo todo e lançá-lo ao mar!"
Depois, como se se arrependesse do volume e da violência do enunciado, acrescenta, olhando de viés para mim:
"Que eu, diga-se, não tenho nada contra o mar..."
Ribeira de Pena, 18 de Setembro de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
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