segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Broncos ocos roncos
Conheci aquela besta na caixa do hipermercado, gaja eficiente com a leitura óptica e com os preços, mas também desabrida e loquaz, com aquela anafada ignorância das faladoras cheias de clichês e veneno. Declamava "política", a aventesma, estimulada pelo sorriso abúlico de um elefante de saias que (também) odiava "os das esquerdas". A da caixa roncava: que era bem feito tirar os subsídios aos funcionários públicos, pois eles não faziam nenhum e deram cabo do país; que este governo leva as coisas a direito e assim é que tem de ser; que os professores e os médicos e os enfermeiros e os das câmaras vão mas é trabalhar; que quem faz greve não gosta de vergar a mola. Toda esta merda enquanto me edificava, peça a peça, o preço da fruta e do café que eu ali fora, em má hora, adquirir. Por um segundo, a porca olhou-me nos olhos à procura de alguma concordância que eu lhe desse: encontrou o glaciar do meu desprezo e, talvez, do meu ódio.
Com a idade tornei-me menos paciente, menos tolerante, menos cristão. Tendo agora a considerar porcos os ignorantes e a cuspir, por enquanto metaforicamente, sobre os seus roncos cheios de vacuidade ou porcaria.
Coimbra, 27 de Novembro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.porcobovino.blogspot.com.]
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