Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

In-Invisibilidade


Os restos da refeição, claro,
Como sempre, sobre a mesa,
No devir da farta festança
Mas também, digo, os restos
Do tempo, a degradação inescondível
Dos corpos e do sangue morredoiro,
As ausências que vão crescendo mais
Do que as presenças, pessoas
Que, em vez de lembrarem nomes d’outrora,
São nomes já d’outrora que lembramos
Jovialmente, no nevoeiro falacioso do vinho.

Alguém, sei, dirá (quem dera que não dissesse) –
É a vida, e encolheremos os ombros,
Muito carregados de resignação e idade.
Era tudo ainda agora, tão limpo e lindo
(Pergunta Pessanha: “Quem poluiu, quem
Rasgou os meus lençóis de linho?”). Era tudo,
Escrevo eu, tão claro de promessas e luz,
Senhor!

A minha mãe disse (quem dera
Que não dissesse esse refrão triste, Mãezinha,
Tão doloroso, sabe, tão inditoso) – É a vida.
Encolhemos os ombros, cansados, antigos,
Que se há-se fazer, não é verdade?
E de repente reparo (Senhor!) que à mesa
Somos já tão poucos.

Coimbra, 25 de Dezembro de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho

 [A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.narcel.com.br.] 

Sem comentários: