Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sonolência

Café de vila. Um velho dormita frente ao jornal. Uma mulher (esposa do adormecido) fala do passado com um outro homem, claramente mais novo do que o casal. Ouço tudo, de forma involuntária ao início, despudoradamente voluntária a seguir. O interlocutor da velha sai do Café, com mesuras amáveis. A velha acorda o marido. Pergunta-lhe se se lembra do Rui. Do filho do Antunes, que estudou para médico. O velho lembra-se.
- É muito bom rapaz. Nunca mais o vi.
A esposa diz-lhe que o Rui Antunes ali esteve e que já saiu. "Tinha pressa, coitado."
- E tu não me acordaste, porquê? - resmunga o velho.
- Para quê? - atira-lhe a mulher. - Estavas a dormir tão bem...
O velho encolhe os ombros e regressa às sonolentas notícias do dia.
Penso: talvez aquele velho nunca mais tenha a oportunidade de ver o tal médico.
Penso isto e, depois, suspiro, com uma espécie de culpa a interromper-me a modorra, ali entre o sumo de maçã e alguns trabalhos de casa de Francês.

Ribeira de Pena, 04 de Junho de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.aorodardotempo.blogspot.pt.]

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