Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Ave, Vita - Morituri te Saluntant

Desde sempre, vejo as estações de comboios e os aeroportos como lugares muito belos e – sem contradição nenhuma –  terrivelmente tristes. É nestes territórios de humanidade avulsa que sinto aquela absurda vontade de sofrer dita em verso, por Cesário Verde, a propósito do entardecer lisboeta.
Em visita (benigna) ao I.P.O., acompanhando familiar, voltei a sentir, hoje, algo semelhante. No regresso a Ribeira de Pena, reflicto sobre a coincidência sensacionista: em que medida aqueles corredores são uma espécie de estação ferroviária ou de aerogare?
Surpresa nenhuma. Creio que tudo, como sempre, tem que ver com a mortalidade. Frágeis, leves, voláteis, transitórios, indefesos – ali vejo seres, como eu, partindo ou vendo partir. Encontrando-se, desencontrando-se, despedindo-se.
Voltarei ao I.P.O. daqui a um ano, segundo a agenda das consultas. Talvez aí nos reencontremos, queridos contemporâneos. Ou não. Repito: talvez.
Talvez é um delicado monumento linguístico à esperança, mas admite já a ominosa possibilidade da decepção. Uma ponte de cristal entre acreditar e resignarmo-nos. Entre sermos e termos de, um dia, deixar de ser.
A rua da minha infância, quando havia vento, trazia os murmúrios de comboios indo e vindo. O nome popular desta Estação de Coimbra-B é Estação Velha (dita velha, notai, desde a meninice de quem agora, maduro, a recorda). E ocorre-me que essa é uma adequada designação da própria Vida: Estação Velha desde que nascemos.

Ribeira de Pena, 06 de Dezembro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.verride.blogspot.pt.]

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