A senhora é perfeita, como sabe:
Leio nos seus olhos todo o bem
Que há na breve vida que nos cabe.
Ainda hoje a trato por Mãezinha
Como se fosse ainda pequenino.
Sabe-me bem, contudo, a palavrinha
E sou - palavra! - um eterno menino.
Lembro-me de a Mãe, durante a lida
Na casa encantada do passado
Cantar Amália e de a nossa vida
Ter cheiro a café e pão torrado.
Gritava: “Zé Tó, Quim, Fatinha, Nelo!
Cuidado, o mar não está de bom humor!”
(Era em Mira, num tempo novo e belo
E a Mãe era a praia do amor.)
Soube, sob as suas asas, da mudança
Consubstancial ao crescimento.
Isto é: que o tempo passa, o tempo avança
E deixa para trás cada momento.
Preciso, mãezinha, que me cante
A Amália que cantava noutra altura:
Traga-nos de novo cada instante
Da felicidade nunca mais tão pura.
Ribeira de Pena, 05 de Maio de 2019.
Joaquim Jorge Carvalho
[A primeira foto regista a eternidade de um momento em que comecei a nascer: uma tarde de namoro com Mãe e Pai nos papéis principais. A segunda, de há alguns anos, tem outro amor em fundo - a amada Coimbra.]
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