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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Educação sem habitação, não


Li no Público (edição de 10 de Outubro de 2018) uma reportagem que provava - se necessário fosse - que é quase impossível arrendar um quarto (já nem falo numa casa) em Lisboa, senão por valores proibitivos. Já o percebera ao testemunhar a saga de uma sobrinha madeirense que, por amor à música, se atreveu a tentar o ensino superior em Lisboa. Para uma família humilde, sem outros recursos que o magro salário auferido por marido e mulher, é um sonho muito caro pôr um filho a estudar nas grandes urbes. 
O direito à educação aparece consignado na Constituição. Coisa normal, desejável, justa. Vale para o ensino básico, para o ensino secundário e para a universidade. 
É verdade que, por razões de sustentabilidade financeira, o Estado se foi atrevendo à imposição de propinas para a frequência de cursos superiores, mas por enquanto as verbas são (ainda) razoavelmente suportáveis, creio, para a maioria das famílias. 
Já a verdade torce o rabo quando falamos de habitação. Os desgraçados que sejam colocados no Porto ou em Lisboa (especialmente nestes casos) só conseguem casa (aliás, quarto) por altíssimas verbas mensais, muitas vezes sem direito a recibo, fora já do alcance da nossa classe média. 
Dito de outro modo: a gratuitidade da frequência do ensino superior, para quem não tem, à partida, residência nas grandes cidades, é uma mentira. O Estado não pode fazer de conta que o problema não existe. Dito de outro modo: a indiferença, aqui, também é inconstitucional. 

Cabeceiras de Basto, 10 de Outubro de 2018. 
Joaquim Jorge Carvalho 
[A imagem – da famosa personagem Snoopy, criação de Charles Schulz – foi colhida, com a devida vénia, em https://schuzmuseum.org.]

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