Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

domingo, 3 de janeiro de 2016

Escola Preparatória Rainha Santa Isabel (Coimbra)


Em 1976 eu já amava o futebol
E a literatura.
No futebol escondia dos outros o segredo
Dos versos.
Nos versos, ai de mim, não podia bem esconder
Fosse o que fosse.
Naquele tempo eu já era contemporâneo
Do Abrunheiro
Mal suspeitando do génio literário por ali crescendo
Metido no comum contexto da escola
Lendo os mesmos livros
Consciente do tesouro de haver Pai e Mãe
Feliz por não haver ainda a morte –
Sujeito também à beleza absoluta das mulheres.
Na nossa escola havia certas flores
(Ou anjos, ou fadas, ou improváveis princesas)
E ambos aprendemos à roda do Sol que elas eram
Sobre o amor
O paradoxo de ser obrigatório a dor
Para se viver
(Para inteiramente se viver).
Depois o Daniel deveio poeta maior
(O mais importante do seu meu nosso tempo)
E eu segui sobretudo a prosa:
Ele diz a beleza e as saudades
Da imortalidade perdida.
Eu, enfim, conto a mesma história
De perdas ausências faltas.
O nosso destino tem esta cumplicidade
Do verbo dito-inventado em português.
Mas o mais engraçado, talvez, é algumas flores
(Ou fadas, anjos, princesas impossíveis)
Serem leitoras de ambos e não perceberem
(Ou então fingirem não perceber)
Que a nossa escrita
Tantas vezes
É por causa delas!

Coimbra, 01 de Janeiro de 2016.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem é do filme Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore, e foi colhida, com a devida vénia, na internet (via wikipédia).]

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