Tenho um amigo que deixou aparentemente de
aparecer nas ruas por onde os meus passos andam. Diz-se que morreu. Mas eu
vejo-o todos os dias, ouço-o todos os dias, sinto-o vivamente a cada instante.
De modo que, vamos lá a ver se nos entendemos,
ele morreu coisa nenhuma. Anda comigo para sempre. Para sempre é até eu
existir.
Não perceber isto (ou falar do número da
sua campa, ou falar da viuvez e orfandade dos dias seguintes a não sei quê que
não consigo dizer) redunda em desespero e choro. Já me aconteceu. Mas sucede
cada vez menos porque eu preciso de não dar em doido, porque eu preciso de
trabalhar, porque eu preciso de seguir em frente – e porque o meu amigo (não
esquecer, jamais esquecer) está vivo.
Estás vivo, pá.
Cabeceiras de Basto, 07 de Outubro de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto da VL, que descobriu na nossa cozinha, em Coimbra,
certa batata com a forma de um coração.]
Sem comentários:
Enviar um comentário