Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Casa Sonetone (não Sonotone)


- Boa tarde. É da casa Sonotone?
- Não, minha senhora. Aqui fala da casa Sonetone.
- A sério? Devo ter visto mal na lista telefónica…
- Mal não direi, minha senhora. Viu talvez algo diferente do que esperava.
- Mas qual é o vosso ramo de negócio, afinal?
- A nossa especialidade, minha senhora, são sonetos.
- Ah, então é mesmo engano, porque eu não preciso nem hei-de precisar …
- Minha senhora, não me leve a mal o atrevimento, mas nisto de sonetos é melhor não os pôr de lado antes de os conhecer.
- Pois sim, mas eu queria era falar com um especialista em audição… Está ouvir-me?
- Muito bem, minha senhora. E tem sido um prazer, garanto-lhe…
- Obrigada. Mas não vale a pena continuar a conversa.
- Vale sempre a pena, minha senhora.
- Não me parece. Os senhores aí não tratam da surdez de ouvidos, pois não?
- Não, de facto. Tratamos é da surdez de olvidos. De olvidos, não se esqueça.
- Não me olvidarei. Se vier a precisar de ajuda nessa área, contacto-vos…
- Agradeço, minha senhora. Verá que, se vier a ser nossa cliente, não se arrependerá.
- Veremos. Sabe que, na casa Sonotone, há senhores a explicar a doença à pessoa.
- Nós, na Sonetone, temos Pessoa a explicar a doença aos senhores.
- Mas também oferecem aparelhos como na casa Sonotone?
- Nós, na casa Sonetone, oferecemos amparelhos.
- Amparelhos?...
- Sim. Aparelhos para o amparo.
- Interessante… E funcionam a electricidade?
- Funcionam à base de luz, minha senhora.
- E se não houver luz?
- Há sempre luz garantida nos sonetos. Vai incorporada de origem.
- Pois bem, está a convencer-me…Vou encomendar um soneto…
- Minha senhora, será um prazer. Chamo a sua atenção, já agora, para uma promoção que estamos a fazer: na compra de três sonetos, acumula uma quadra ou dois tercetos no nosso cartão de pontos. Está interessada?
- Estou, sim. Espero que seja como o senhor diz…
- Verá que vai ficar feliz!
- Ah, que engraçado! Respondeu-me com uma rima…

- Pois respondi. É oferta da casa. Com licença…

Ribeira de Pena, 08 de Outubro de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[Este texto surgiu-me durante a viagem entre o Arco e Ribeira de Pena, depois de o Daniel Abrunheiro me falar do fabrico recente de mais um (seu) soneto. A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.cuidarte.com.]

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