Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Mãe vista do outro mesmo lado


Eu era menino, tinha a altura da tua cintura

E tu conduzias-me pela mão até à escola

Prevenindo medos e acidentes rodoviários.

Consolaste-me quando o Nuno morreu na curva

Do Café (a mãe dele tinha, ao chorar, as mãos vazias)

E a minha febre curava-se melhor quando tu estavas

Murmurando optimismos, segurando a minha testa durante

O vómito a quarenta graus, naquelas frágeis noites

Da minha imortalidade interrompida. Eras, Mãe, o regaço

Da felicidade completa que só bem se percebe ao recordar-se.

Depois fizeste setenta e quatro anos e ficaste pequenina

Avessa a horários, distraída, tão fraca. Chamas diabretes

À diabetes, dizes palavrões, esqueces-te de nomes

E vomitas muitas vezes, depois das refeições. Eu seguro-te

A testa com a minha mão e garanto-te que a dor já vai passar.

Amo-te tanto, Mãe, não te posso perder. Lembro-me de ouvir

(À altura serena da tua cintura) a promessa de nunca

Morrermos, e naquele tempo nada disto era mentira.

Não digas palavrões, mãe, dá-me a tua mão, eu não deixo

Que te aconteça mal algum. Vamos os dois ver Coimbra

Do outro lado do rio.


Coimbra, 31 de Janeiro de 2014.

Joaquim Jorge Carvalho

[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em maeporacaso.spaceblog.com.]

2 comentários:

Anónimo disse...

Esta é a minha mãe e "Significas..." diz assim:

A presença na ausência
A companhia na solidão
A paz na guerra
O nosso consolo na aflição.

Não és só uma luz no escuro
Mas a estrela que brilha nos céus
Guiando pelo mundo
O caminho dos filhos teus.

Por ontem,
Por hoje
E para toda a vida
Obrigada, Mãe querida!

RGC

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Estou, sou consubstancial ao que escreves. A tua Mãe, aqui, é também minha. Muito bem! Beijinho, querida Amiga.