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Número de Ondas

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Os botins de Ana



Vi na Casa de Camilo, em S. Miguel de Seide, numa vitrina conspícua, certo parte botins muito elegantes que – garantem as legendas – revestiram por algum tempo os pés de Dona Ana Plácido. São uns botins pequeninos, algo frágeis e delicados, símbolo (digo eu) da natureza reservada e sensual da amada de Camilo.
Os meus olhos voaram dali, depois, para um salão qualquer no Porto, ou para um esconso trilho no Minho famalicense, quem sabe talvez para uma caleche burguesinha de meados de 1800…
Calculo, sem grande rigor logístico, que aqueles mesmos botins tenham andado por alguns dos caminhos de perdição de Ana e seu amante genial. E, sabei agora, os pés que ali já não podem estar, por haver essa lei fascista da mortalidade, têm de novo sangue porque eu imagino.
Eis o meu credo mais valioso e poderoso: a verdade – existindo ou não – é sobretudo o que eu for capaz de imaginar!

Ribeira de Pena, 15 de Novembro de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (foto de David Soares) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.fotografias.360.com.]

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

Descobri há uns meses atrás, ao reencontrar num almoço colegas de curso que não via desde a juventude, que o conservador da Casa de Camilo foi meu colega de turma na faculdade. José Manuel Oliveira é o nome dele, pode bem ser que o tenhas conhecido por lá. Uns grandes e hipnóticos olhos azuis, e uma anedota sempre pronta a sair, ou seja, algo que não se esperaria (talvez) num sisudo conservador de uma casa de um escritor de antanho.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Não cheguei a conhecer o teu amigo. Mas testemunhei, in loco, que a dinâmica da Casa de Camilo está bem e se recomenda. Abraço!