Anos depois, já para lá da adolescência (minha e da liberdade), juntámos àquelas palavras e àqueles versos iniciais uma espécie de reiteração ontológica - 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.
A má notícia é o Tempo ser, por natureza, reaccionário: às mãos dos cínicos relógios do mundo, os ideais vão envelhecendo-morrendo, como acontece às mais belas flores, que perdem (ai delas, ai de nós)o seu perfume e a sua cor originais.
A boa notícia é haver Memória e, à sua boleia, renovada Esperança: por muito estranho que vos pareça, tenho-me apercebido de que a gente nova tem curiosidade e é capaz e oferecer a sua atenção a relatos sobre a Noite anterior ao Dia. Com a mesma generosidade da juventude onde eu próprio residi há 48 anos, vejo como os nossos jovens são capazes de perceber e amar (à sua medida) este nosso Abril para sempre - pela Literatura, pela Fotografia, pela Pintura, pela História, pelo Teatro, pelo Jornalismo, pelo Cinema, pela Escola.
Algures em Lisboa, neste mesmo dia em que escrevo isto, a minha Filha estará (creio), na companhia de muitas vozes da sua geração, a cantar “Grândola vila morena”. Sei que, muito para além de eu morrer, na sua voz há-de estar para sempre a minha.
E, pois claro, 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!
Ribeira de Pena, 24 de Abril de 2022.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem que ilustra este texto é, com a devida vénia, da pintora Vieirada Silva (“A poesia está na rua- XXV de Abril de 1974”).]
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