Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Sépia

Gosto de fotos antigas
De ver os agora mortos vivendo ainda tanto 
Tão fora de não estar vivos 
De ver as casas ainda jovens 
Muito anteriores à ruína do devir 
De ver campos e flores em vez de cimento civil 
De perceber a pureza ingénua dos gestos 
Ainda livres do cinismo técnico-tecnológico. 

Até em fotos de guerra vejo humanidade – 
Um esgar de aflição ou de prazer 
Um sorriso malandro, uma dúvida qualquer 
Uma mulher fugindo sensualmente das bombas 
Um soldado fumando no intervalo do medo. 

Gosto de ver o presente que há ali 
Em fotos para sempre cheias de esperança 
Como senão houvesse morte seguinte Àquele momento           
Como se cada instante fotografado fosse 
A eternidade. 

Arco de Baúlhe, 12 de Junho de 2019. 
Joaquim Jorge Carvalho
[A foto, já usada neste blogue, grava no tempo um instante familiar, na Praia de Mira, aí por 1968.]

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