Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Casa, varanda e rua (ecoando Jorge de Sena)



A minha rua é sobretudo cimento
Já não tem árvores e quase não há
Pássaros.
As poucas flores que ali encontro
São baças e curvadas, morrendo
Tristemente
Sobre o alcatrão rodoviário
Como se tivessem medo de crescer.
Eu costumo ir para a varanda
E imaginar que a estrada em frente é
Uma floresta encantada
Com feiticeiras secretas
E que os carros são, passando, barquinhos
Bordejando a praia alegre e fresca
(Uma praia como a que outrora houve
Quando o pai era ainda vivo
E a mãe cantava as canções da rádio
Durante a lida do ledo lar).
À noite finjo confundir o barulho
Dos comboios e do vento
Com marés imaginárias de oceanos mil.
É quase sempre de madrugada
Que nada é tudo
E tudo é nada.


Ribeira de Pena, 12 de Maio de 2015.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.pt.dreamstime.com.]

Sem comentários: