Um
dos mais alegres dias da minha vida sucedeu há cerca de 17 anos. Foi o dia em
que a minha irmã se casou com o meu amigo Conceição.
Eu
só soube que o meu amigo era namorado da minha irmã numa fase adiantada dessa
relação. Fazíamos, em certo Verão de 1996, o nosso jogging choupalino e ele mandou-me parar. Disse-me:
- Ó
pá, eu gosto muito da tua irmã e temos saído às vezes.
Fiquei
muito sério e, num jacto, respondi:
-
Tenho apenas uma irmã e poucos amigos verdadeiros. Se te portares mal, fico à
mesma só com uma irmã e com menos um amigo.
Ele
riu-se e assegurou-me que tinha boas intenções. E, de facto, tinha.
No
dia do casamento, reuniram-se muitos familiares, amigos e conhecidos de ambos
os noivos – e, numa dessas coincidências cósmicas que raramente ocorrem, aconteceu
esse dia tão intensamente festivo, tão magicamente alegre. Um dia inesquecível,
senhores, um dia (como hei-de dizer?) imorredoiro.
Mas,
à noite, quando eu, a MP e a VL nos preparávamos para regressar a Ribeira de
Pena, tive um vislumbre de tragédia: vi a mesa da sala materna exibindo os
restos (mortais) da festa, já sem gente, povoada de pedaços de bolo em guardanapos
sujos, garrafas – de vinho ou sumo – vazias ou já encetadas e descuidadamente
abertas, a toalha com nódoas de comida, as cadeiras desarrumadas. O silêncio. A
minha mãe dessa vez abraçou-se a mim, chorando. Disse-me:
-
Deixa lá, filho. É a vida…
“A
vida”, ali, significava a sua solidão deveniente: os filhos todos já casados, a
casa inteira cheia de nada.
Dezassete
anos depois, revi muitos dos rostos daquele dia festivo, mas o motivo, agora, era
a brutal partida do meu amigo-cunhado José António Conceição. E eu dou, de
súbito, com a minha irmã e a minha mãe novamente juntas, com o meu sobrinho ao
lado.
Não
se trata, ai de nós, de um regresso ao passado primaveril que em 1997 éramos
ainda. É o Outono. Aliás, o Inverno.
Este
calor de Julho não me engana. Não me consegue enganar. Que eu sinto claramente o frio
desta história verdadeira.
Coimbra, 12 de Julho de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
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