Há muito que explico a minha (esparsa) ligação às redes sociais com a imagem de um Café onde se vai para uma breve visita, quiçá para uma breve conversa. É um lugar para ver e se ser visto, não necessariamente para interagir, pois para tal é preciso disposição, vontade e tempo.
Ultimamente tem-me apetecido dizer adeus para sempre a esse convívio, nem sempre higiénico, nem sempre amável, nem sempre civilizado. Os frequentadores mais ferozes destes espaços assemelham-se cada vez mais a milícias furiosas e maledicentes, com traços bipolares (talvez “multipolares” seja a palavra certa), como se buscassem o mínimo pretexto para expelir ódios, frustrações, veneno e depressão. É tudo de um maniqueísmo básico e radical, muito preto-branco, muito salazarento (“Quem não está por nós, ó meus amigos, está contra nós!”).
Há pouco, sucedeu-me comentar a atitude de Sérgio Conceição, treinador do Futebol Clube do Porto, que se recusou, na tribuna de honra do estádio do Jamor, após perder a final da Taça de Portugal em futebol, a cumprimentar o presidente do Sporting Clube de Portugal. O que defendi foi que toda a gente, enquanto indivíduo, tem o direito de escolher cumprimentar ou não cumprimentar outrem - mas que, no plano institucional, marcado por aquilo a que chamo o “decoro institucional”, devemos sacrificar a pulsão individual e agir de forma digna. (“Digna”, sublinho, no sentido etimológico, i.e. no sentido de estar à altura das circunstâncias.)
Não foi, naquele contexto, o indivíduo Sérgio Conceição quem deu provas de arrogância e mau perder. Foi algo muito maior do que o (provisório) funcionário: o secular Futebol Clube do Porto. Creio, aliás, que o que pretendia ser visto como um gesto de afirmação de carácter acabou por redundar num muito feio episódio de arruaça.
Como compreenderão, a discussão extravasa o cariz clubístico-tribal. Trata-se de preservar um reduto mínimo de civilidade e de educação. Mas caiu-me logo, sobre a prosa, um adepto do FCP (e, "por arrastamento", do cidadão Sérgio Conceição), dizendo que o arruaceiro era eu, que os “meus” (referia-se aos jogadores do Sporting) haviam feito um “jogo sujo”, que o árbitro não sei quê. Assinalei-lhe, em resposta, alguns erros de ortografia e manifestei-lhe a óbvia indisponibilidade para manter qualquer “diálogo”, arrependendo-me mil vezes de ter ido ao Café Facebook.
Como diria o amado escritor/filósofo Jean-Paul Sartre, “L’enfer, c’est les autres”. (Mas nós somos os outros dos outros…)
Cada vez mais o Café virtual se parece mais com uma tasca, com espinhas, beatas de cigarro, cascas de tremoços e insultos pelo chão e pelo ar. Talvez passar por lá seja má opção. Talvez o melhor seja ficar em casa, respirar ar ainda puro, passear pela humanidade serena em quem confiamos. Questão já, diria eu, de sobrevivência.
Coimbra, 25 de Maio de 2019.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em https://saude.abril.com.br.]