Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Demis Roussos, forever and ever

 
 
A morte de Demis Roussos é um pouco parte da minha própria morte, essa coisa escura e fria que, aos poucos, sinto e de vez em quando ainda combato com (irregular) entusiasmo. Comprei discos deste grego universal, dancei apaixonadamente slows com os seus temas, decorei versos (em inglês e em francês), sonhei com uma miúda do sétimo ano ao som de forever and ever, despedi-me de algumas impossibilidades ao som de goodbye my love goodbye.
A mortalidade faz parte da vida, eu sei. Mas nunca bem se compreende, creio igualmente, esse absurdo. É uma lei, digamos, que se nos impõe de modo ora subtil ora brutal.
Eu morri, de certa forma, quando ouvi dizer que Demis Roussos já não era deste mundo. À minha memória chegaram imagens e melodias que, hélas!, também vão deixando de ser deste mundo. E distintamente ouvi, na minha cabeça, sobrepondo-se ao ruído das vozes mundanas que me rodeavam, certo título do grande Ruy Belo antecipando o fim da sua viagem por cá: "Despeço-me da terra da alegria". Pois.

Arco de Baúlhe, fim do dia (com gripe), 30 de janeiro de 2015.
Joaquim Jorge Carvalho

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Estrelas (evocando "La Beauté", de Baudelaire)



São, disseste, sonhos as estrelas
Que no céu vemos, belas e luzentes
E sabe bem saber que tu, ao vê-las,
Bem sabes dos meus sonhos indecentes.

Cabeceiras de Basto, 14 de Janeiro de 2015.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.last.fm.com.]

Canção de mim



Escuta, amor, a canção
Da minha vida a correr
Ouve nela a expressão
Dos meus dias a valer.

A música são melodias
Do meu pobre coração:
Tristezas e alegrias
Eu entre o céu e o chão.

O refrão para me cantares
É o silêncio das lembranças
Ou o barulho do mar
Na praia em que fui criança.

Arco de Baúlhe, 14 de Janeiro de 2015.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (Praia de Mira) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.gloriaisizaka.blogspot.com.]

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Ronaldo & George Steiner

Reagi como adolescente idólatra a mais uma conquista de Ronaldo. Talvez este entusiasmo tenha algo que ver com a comum portugalidade, a origem madeirense que há em parte da minha família, a passagem pelo amado Sporting, o seu berço humilde a anteceder a glória. Mas é mais do que isso, tenho a certeza. Ronaldo é o expoente de uma paixão que há muito me habita - o Futebol. Televejo-o com canina fidelidade e saboreio casa êxtase como se se tratasse de uma experiência religiosa. George Steiner explica-nos que a "presença de Deus" se manifesta de cada vez que testemunhamos uma espécie de "perfeição". Tenho sido visitado por essa coisa inefável na forma de um livro, de um poema, de uma canção, de um filme, de um amigo, do Amor. E na forma de dribles, fintas, golos. A ideia de Deus está, pois, por exemplo, num golo de calcanhar contra o Valência, quase no final da época passada, estava eu em Vila Real com uma resma de testes para corrigir.
Obrigado, Cristiano.

Cabeceiras de Basto, 13 de Janeiro de 2015.
Joaquim Jorge Carvalho