Crónica do mês que vem
1.
Com
a idade e a atenção, é possível que nos chegue a sabedoria. A evolução nota-se,
entre outros sinais, pelo uso competente da tão preciosa serenidade (por
oposição ao desassossego sanguíneo), mas também pelo do silêncio (por oposição
ao falatório inconsequente). Já agora: creio que a capacidade de síntese, que
poupa os outros à dispensável verborreia dos faladores, é uma forma amável de
silêncio.
Olhai, por
exemplo, o que se pode dizer – com a voz de um velho passeando ao entardecer,
sem outra pressa que a urgência de comunicar – sobre os verbos-conceitos Ser e
Ter. Sobre Ser: a vida humana carece essencialmente de amor e de esperança.
Sobre Ter: a maior riqueza para os vivos é a saúde e o tempo.
2.
Dito
isto, quero falar-vos de Agosto. O melhor escritor português vivo (que escreve
n’ O Ribatejo) não gosta deste mês,
mas eu – que admiro a graça e o génio com que ele o diz – discordo
apaixonadamente desse juízo. Tirando pontuais dores de cabeça, que assinalam
picos de temperatura, e variadas dores musculares, que ecoam a teimosa prática
de desporto, eu sinto-me um alegre milionário da vida, neste Estio maior. Sou o
que quero, tenho quanto preciso. Acordo sem despertador, participo na vida doméstica
com vagar e método, falo com vizinhos do (meu) “querido mundo” (expressão
colhida em Giovanni Guareschi), passeio, namoro, frequento esplanadas, escrevo,
leio, vejo filmes e séries imperdíveis, visito o amado Mar.
O grande Ruy
Belo bem dizia que é “o Verão a única estação”. Eu digo, com sabedoria de tempo
feita, que o melhor do ano está em Agosto, esse mês em que até um velho é capaz
de sentir-se novamente novo.
Ribeira de Pena, 21 de Julho de 2016.
Joaquim Jorge Carvalho
[Esta crónica
foi publicada no semanário O Ribatejo,
edição de 28-07-2016.]