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Número de Ondas

segunda-feira, 25 de julho de 2016

ZONA DE PERECÍVEIS (48)



Suave Moralidade, Interesse Durão

 

Numa fase a que, por caridade, poderíamos chamar “período formativo”, Durão Barroso foi um feroz maoísta. Alegadamente, algumas conversas e leituras tê-lo-ão transformado num entusiasta da social-democracia, pelo que lá aderiu ao PPD. À boleia dos amigos certos (e decerto também da sua verve ruidosa e incendiária qb), chegou a presidente do partido. Nessa condição, viu-se - para surpresa e susto de muitos – no lugar de primeiro-ministro de Portugal. Mas o cargo, que era “a grande missão” da sua vida, passou subitamente a coisa descartável, ao ser convidado para presidir à Comissão Europeia. Falou-se, então, no facto de outros europeus (incluindo primeiros-ministros), embora convidados, antes ainda de Durão, terem recusado a oferta, devido a (imagine-se!) questões de ética pessoal e política.

Enquanto presidente da Comissão, Durão Barroso foi um burocrata cinzento e medíocre, que se portou como um fiel empregado dos governos mais poderosos da Europa. Pelo meio, viu obedientemente “as provas” da existência de armas de destruição maciça, que Saddam Hussein se preparava – garantia-se – para usar contra o Ocidente. As ditas armas, afinal, não existiam, talvez nem tivesse valido a pena Durão ter-se posto em bicos de pés para aparecer na fotografia com os mentores da invasão do Iraque (Bush e Blair).

Durante a mais recente crise financeira, que começou, do ponto de vista europeu, na Grécia e se estendeu, entretanto, a outras nações (incluindo a nossa), Barroso chegou a denunciar, timidamente, algumas instituições americanas ligadas ao crédito, ao investimento e à especulação, cujas práticas selvagens contribuíram decisivamente para o caos superveniente. Entre estas organizações, como se sabe, estava a mui poderosa Goldman Sachs.

Já reformado da Europa, com a modesta pensão de (diz-se) 11 mil euros mensais, quiçá desapontado com a ausência de uma vaga de fundo entre os portugueses que lhe implorasse a candidatura à presidência da República, recebeu uma oferta de emprego da – adivinhais? – Goldman Sachs para presidente não executivo daquela instituição. Indiferente a quaisquer reticências morais ou ao ruído indignado dos europeus (nacionais e internacionais, arraia-miúda e líderes importantes, políticos e politólogos, comentadores e filósofos, etc.), Durão fez as continhas e aceitou (mais) esta oportunidade.

Disse Frederico Carvalho de seu Pai (Rómulo de Carvalho/António Gedeão) que “tudo quanto fez, foi por amor”. De Durão Barroso se poderá dizer, ecoando O’Neill, que tudo quanto tem feito é pela (sua) vidinha.

 

Ribeira de Pena, 17 de Julho de 2017.

Joaquim Jorge Carvalho

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