O
quarto onde eu dormia em criança
Está
vazio por motivo de obras:
A
minha mãe decidiu que era hora
De
geral pintura das paredes.
Está
o quarto vazio também de mim
E
eu tão cheio dele e do que nele havia
Em
minha meninice – de futuro e de sonhos
E
de solidão boa (no intervalo do ruído do mundo).
Descobrimos
subitamente, no quarto, uma aranha
Actual,
mas talvez trineta de uma outra antiga
Que
há quarenta anos, ali mesmo, me assustou
Atravessando
a suspensa distância entre a lâmpada
E
a única janela do quarto:
Entre
a luz da EDP e a luz do sol.
A
minha mãe tem o horror de aranhas
E
mata aquela com o seco chinelo…
Eu
fico a olhar a inútil teia sem inquilino
Deste
preciso lugar onde era menino.
Coimbra, 06 de Agosto de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[Este poema faz parte de um volume a que chamei Escrever sobre não estares (2010). A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.adesobertaguiada.blogspot.com.]
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