Há muito que acredito na bondade do pudor. Tento manter os outros afastados das dores mais íntimas e sinto até nojo da exibição lingrinhas de desgostos pessoais (do género “Tenham pena de mim! Tenham muita pena de mim!”). Não estou aqui, pois, para vos lavrar a acta previsível do sofrimento. Ao contrário, venho celebrar o egoísmo de cinco hora quase só minhas, na praia da Tocha, diante do oceano que magicamente é o mesmo onde mergulho, no tempo ideal, na Madeira, com a MP ao lado.
À hora em que escrevo, reli já umas setenta páginas de O Mundo é pequeno, de David Lodge, comi uma fatia de piza e molhei os pés na fria (mas revigorante) água que marulha em frente. Chamaria a este tempo um tempo de felicidade, não fosse a velhice da Mãe e a situação melindrosa da F, no hospital.
Mais logo, quando visitar a minha Irmã, talvez lhe fale da Tocha, terra para onde ela irá fazer a sua reabilitação física e intelectual. Prometer-lhe-ei, hoje ou mais tarde, que lá voltaremos, aí por Julho de 2020, se estivermos todos vivos, para andarmos na areia e e depois comermos frango assado.
Entretanto, embala-me ainda este areal amplo e limpo, este amado Mar e esta ilusão do tempo parado no minuto ideal.
Praia da Tocha, 24 de Agosto de 2019.
Joaquim Jorge Carvalho
[Fotos JJC]
1 comentário:
Os anos avançam e, pouco a pouco, a doença e a morte vão apertando o cerco. Nada é eterno e daqui nada levaremos. Vivemos - todos nós - essa realidade de maneiras muito diversas, porque somos diferentes e as nossas vidas e experiências foram diferentes. Perder entes queridos é penoso, mas mais penoso ainda é sofrer com o seu sofrimento. Mas contra isso pouco podemos. Que os males se mantenham longe dos teus e que toda a dor te seja passageira e leve! Um sportinguista é, por definição, uma pessoa que resiste a todas as tempestades! Um abraço, caro amigo.
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