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Número de Ondas

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

22 de Agosto ("Et in Arcadia ego!")


A minha sogra chama-se Maria. Casou-se há 59 anos com o Mestre João. Ela está viva, o Mestre já partiu. Devo-lhes muito, a ambos: a Família que criaram, uma certa ideia de sabedoria associada à bondade e à alegria, o exemplo de amor pelas pessoas (vizinhos, conterrâneos, seres humanos em geral). Devo-lhes o fabrico e a educação da menina-senhora com quem, depois, eu próprio fundei a minha Família. 

Passei muitos 22 de Agosto celebrando esse regaço lindo e puro que eram a senhora Maria e o Mestre João, com todos os filhos ainda vivos, mais as netas entretanto nascidas (aqui se incluindo a minha Filha, que cedo perceberia também o significado maravilhoso da palavra Encontro). 
Uma das faces do Paraíso é, para mim, esse tempo imorredoiro passado na Madeira, cheio de alegria, humor, música e união. Digo 22 de Agosto como se dissesse Vida, como se dissesse Nós, como se dissesse Sempre. 
Há agora demasiados mortos na contabilidade familiar. Mas há ainda vivos que não conseguem – nem devem – esquecer a felicidade de ter estado nesse tempo, nessa bolha de doçura e de enganosa imortalidade. 
Na pessoa da senhora Maria, como se agora ela fosse ela e o Mestre João com ela, ergo mentalmente um copo de vinho e celebro outra vez o dia 22 de Agosto. Estou com os seus filhos (os vivos e os ausentes), as suas netas e os seus netos, a avó Carolina. Sou um de nós, senhora Maria e Mestre João. Sou da Família. Em vez da amargura das saudades, este é um dia para eu me sentir grato por quanto já vivemos. 
À vossa! 

Coimbra, 22 de Agosto de 2019. 
Joaquim Jorge Carvalho

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