Nota prévia: a minha Colega/Amiga Rosário Coelho pediu-me pequeninos textos que começassem por determinadas letras. Essas frases completariam o cenário que preparara para o Sarau da nossa Escola, concretizado no dia 3 de Abril do corrente ano. Andei com esse pedido na cabeça durante um dia. Devo ter parecido, então, aos que me rodeavam bastante distraído e alguém, com razão, me acusou de "estar na lua". Era verdade - daí ter chamado "Frases da Lua" (depois "F(r)ases da Lua") ao conjunto de frases fabricadas. Ei-las.
Três para a letra B -
“Boa noite”, disse a
lua, aparecendo no céu.
“Boa noite”,
respondeu o poeta. O meu poema estava à tua espera.
“Branca como a neve
só a própria neve”, disse a neve. “Para me perceberem, têm de ver, de pensar,
de sentir como eu. Têm de ser como eu. Têm de ser eu.”
Beatriz é o nome do
grande amor de Dante. O famoso “Inferno de Dante” não é um lugar: é não ter Beatriz junto a si.
Cinco para a letra D -
Dá-me a tua mão,
amor, contra a escuridão. Quero dizer: para haver Sol.
Disseste que seria
para sempre. Não venhas agora com as desculpas da mortalidade ou do tédio,
ouviste?
“Ditosa Pátria minha
amada”, disse Camões. E, grata e orgulhosa, a Pátria volveu Poema.
Descemos para o chão,
por nos dizerem que tínhamos de viver com os pés aí. Depois, passámos a vida
com saudades de voar.
Depois do mar, é
provável que nada exista. Por isso navego, como se o mar fosse tudo.
Duas para a letra I -
Irmãos, está-se a
acabar o Futuro. Não podemos perder tempo!
Ir é um verbo com
bichos-carpinteiros. Os bichos metem-se no verbo, cheios de sonhos e de impaciências,
e vão.
Três para a letra J -
- Janela, que há lá
fora?
- Mais tarde, hás de
saber.
- Mas podes dizer-me
agora?
- Não perguntes, vai
lá ver.
Jesus, por ser poeta,
falava como as aves, cantando como se fosse um pássaro. Quem o ouvisse com o
coração, voaria para o céu.
Junho inunda o
calendário de Sol e de cheiro a maresia real ou imaginada. Acontece-me, por
essa altura, acreditar que o Inverno não existe.
Uma para a letra L -
Lavei o rosto com a
água de um regato pequenino e anónimo. Só depois comecei a ler. O livro,
sorrindo, deixou-me entrar como se fosse da casa.
Uma para a letra A -
Amor não é bem uma
palavra. É o som do mundo à procura de música.
Uma para a letra V -
Virei à hora habitual
do entardecer, com aquela urgência de chegar ainda com luz, só para te ver
passar a caminho de não estares.
Duas para a letra F -
Felizes os que
caminham felizes só pela felicidade de caminhar.
Faz de conta que sou
um piano e toca-me, com a delicadeza e a competência necessárias, para enfim
suceder a música querida.
Coimbra, 17 de Abril de 2019.
Joaquim Jorge Carvalho
[Desenho de Rosário Coelho.]
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