Lemos nos jornais e vemos na televisão que o mundo vai
mal: as guerras não param, a pobreza agarra-se ao planeta Terra como uma lapa
teimosa, a intolerância entre os povos mostra os seus dentes ferozes, o
desemprego (sobretudo entre os mais jovens) aumenta a cada dia. Dir-se-ia que a
esperança começa a ser uma palavra sem real sentido.
Vistas da Escola, as feridas da humanidade parecem
ainda piores. Porque os nossos olhos andam pelos livros de Ciências e aprendem
que o racismo é uma estupidez. Porque os nossos olhos andam pelos livros de
História e aprendem que as guerras devem ser, em vez de travadas, prevenidas,
evitadas. Porque os nossos olhos andam pelos livros de Matemática a aprendem
que a riqueza mal distribuída é uma conta fatalmente errada. Porque os nossos
olhos andam pela Literatura, pelo Desenho, pela Escultura, pela Música e
aprendem que não há verdadeira vida sem a beleza e sem o amor.
Aparentemente, o mundo ignora o que os livros ensinam.
E a realidade, vista do lugar em que aprendemos tanto sobre a vida, parece uma
besta estúpida e feia.
De modo que a Escola é hoje, mais do que nunca, uma
fortaleza da esperança. O chão de onde partimos tem de ser a ideia de que vale
a pena o esforço. De que o futuro pode ser melhor. De que a ignorância e a
barbárie são fases transitórias e vencíveis. De que há sempre, no passado, uma
Primavera para recordarmos e, no futuro, uma Primavera para voltarmos a viver.
A Primavera sonha-se também na Escola. A Primavera
faz-se também na Escola.
O jornal Arco-Íris
(jornal da minha Escola, a melhor escola do mundo) é, como eu o entendo, uma espécie de apóstolo da
esperança - e não se admirem se, por entre as suas páginas, calha de brilhar
algum Sol. Nós trabalhamos com o Sol e o Sol trabalha connosco. A primavera é
trabalho de ambos. Trabalho, portanto, de grupo.
Gosto de pensar que os nossos leitores entrarão pelas páginas do nosso jornal e confirmarão
que palavras e imagens, embora sonhadas e escritas em pleno inverno, são
matéria essencialmente solar. Essencialmente primaveril.
Arco de Baúlhe, janeiro, 2015.
[Este texto aparece no jornal Arco-Íris, que saiu agora, com o título de "Abertura". A imagem que aqui o ilustra é a de um maravilhoso filme (com base em novela homónima), La Lengua de las Mariposas. Com a devida vénia, naturalmente.]
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