Passou recentemente pela
RTP2 um belo documentário sobre certo projecto que, em França, se está fazendo
sob a égide do Ministério da Educação gaulês. Trata-se, em resumo, da tentativa
de segurar na escola aqueles alunos que, no ensino regular, foram colecionando reprovações,
processos disciplinares, suspensões, desistências. Tanto quanto percebi, os
alunos – enquadrados em turmas muito reduzidas – têm aulas em carpintarias, ateliês
de arte, oficinas de chapa, mecânica ou pintura, empresas de agropecuária, escolas
de circo. Pontualmente, têm aulas de língua materna (leitura, sobretudo). Uma
vez por semana, reúnem-se com os formadores e fazem a sua autoavaliação – que é,
logo na hora, criticamente monitorizada pelo corpo docente.
O projecto é para durar
cinco anos, após o que se procederá à sua avaliação pelos governantes. Coisa
séria, portanto.
Por cá, sei de turmas com
duas dezenas de alunos, em boa parte semelhantes aos discentes que vi no
programa francês. Frequentam cursos de educação e formação, cursos
profissionais, cursos vocacionais. Mas os nossos alunos têm aulas tradicionais,
fundamentalmente semelhantes às que são leccionadas no ensino convencional,
regular. Morrem de tédio, cumprem pena, revoltam-se mais ou menos
agressivamente. Que lhes fazemos? Damos-lhes mais do mesmo, à espera quiçá que
a paixão nasça do desespero ou do cansaço.
Eu não detesto a escola.
Nunca detestarei a escola. O que “detesto”, para usar o verbo do título deste
documentário, é a Escola – assim mesmo, com maiúscula - não ser capaz de se
reinventar na medida do necessário (e, vá lá, do possível).
Coimbra, 12 de Outubro de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem faz parte da maravilhosa bibliografia de Bill Watterson - Calvin & Hobbes, naturalmente. Com a devida vénia...]
1 comentário:
Queria acrescentar alguma coisa, mas não sei o que dizer. Já disseste tudo, e muito bem. Pequenos grandes «nadas» podem fazer toda a diferença quando se trata de educação. Abraço.
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