- Boa tarde. É da casa
Sonotone?
-
Não, minha senhora. Aqui fala da casa Sonetone.
- A sério? Devo ter
visto mal na lista telefónica…
- Mal não direi, minha
senhora. Viu talvez algo diferente do que esperava.
- Mas qual é o vosso ramo
de negócio, afinal?
- A nossa especialidade,
minha senhora, são sonetos.
- Ah, então é mesmo
engano, porque eu não preciso nem hei-de precisar …
- Minha senhora, não me
leve a mal o atrevimento, mas nisto de sonetos é melhor não os pôr de lado
antes de os conhecer.
- Pois sim, mas eu
queria era falar com um especialista em audição… Está ouvir-me?
- Muito bem, minha
senhora. E tem sido um prazer, garanto-lhe…
- Obrigada. Mas não vale
a pena continuar a conversa.
- Vale sempre a pena,
minha senhora.
- Não me parece. Os
senhores aí não tratam da surdez de ouvidos, pois não?
- Não, de facto.
Tratamos é da surdez de olvidos. De olvidos, não se esqueça.
- Não me olvidarei. Se
vier a precisar de ajuda nessa área, contacto-vos…
- Agradeço, minha
senhora. Verá que, se vier a ser nossa cliente, não se arrependerá.
- Veremos. Sabe que, na
casa Sonotone, há senhores a explicar a doença à pessoa.
- Nós, na Sonetone,
temos Pessoa a explicar a doença aos senhores.
- Mas também oferecem
aparelhos como na casa Sonotone?
- Nós, na casa Sonetone,
oferecemos amparelhos.
- Amparelhos?...
- Sim. Aparelhos para o
amparo.
- Interessante… E
funcionam a electricidade?
- Funcionam à base de
luz, minha senhora.
- E se não houver luz?
- Há sempre luz
garantida nos sonetos. Vai incorporada de origem.
- Pois bem, está a
convencer-me…Vou encomendar um soneto…
- Minha senhora, será um
prazer. Chamo a sua atenção, já agora, para uma promoção que estamos a fazer:
na compra de três sonetos, acumula uma quadra ou dois tercetos no nosso cartão
de pontos. Está interessada?
- Estou, sim. Espero que
seja como o senhor diz…
- Verá que vai ficar
feliz!
- Ah, que engraçado!
Respondeu-me com uma rima…
- Pois respondi. É oferta
da casa. Com licença…
Ribeira de Pena, 08 de Outubro de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[Este texto surgiu-me durante a viagem entre o Arco e Ribeira de Pena, depois de o Daniel Abrunheiro me falar do fabrico recente de mais um (seu) soneto. A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.cuidarte.com.]
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