Eu era menino, tinha a
altura da tua cintura
E tu conduzias-me pela
mão até à escola
Prevenindo medos e
acidentes rodoviários.
Consolaste-me quando o
Nuno morreu na curva
Do Café (a mãe dele
tinha, ao chorar, as mãos vazias)
E a minha febre
curava-se melhor quando tu estavas
Murmurando optimismos,
segurando a minha testa durante
O vómito a quarenta
graus, naquelas frágeis noites
Da minha imortalidade
interrompida. Eras, Mãe, o regaço
Da felicidade completa
que só bem se percebe ao recordar-se.
Depois fizeste setenta e quatro anos e ficaste pequenina
Avessa a horários,
distraída, tão fraca. Chamas diabretes
À diabetes, dizes
palavrões, esqueces-te de nomes
E vomitas muitas vezes,
depois das refeições. Eu seguro-te
A testa com a minha mão
e garanto-te que a dor já vai passar.
Amo-te tanto, Mãe, não
te posso perder. Lembro-me de ouvir
(À altura serena da tua
cintura) a promessa de nunca
Morrermos, e naquele
tempo nada disto era mentira.
Não digas palavrões,
mãe, dá-me a tua mão, eu não deixo
Que te aconteça mal
algum. Vamos os dois ver Coimbra
Do outro lado do rio.
Coimbra, 31 de Janeiro de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a
devida vénia, em maeporacaso.spaceblog.com.]
2 comentários:
Esta é a minha mãe e "Significas..." diz assim:
A presença na ausência
A companhia na solidão
A paz na guerra
O nosso consolo na aflição.
Não és só uma luz no escuro
Mas a estrela que brilha nos céus
Guiando pelo mundo
O caminho dos filhos teus.
Por ontem,
Por hoje
E para toda a vida
Obrigada, Mãe querida!
RGC
Estou, sou consubstancial ao que escreves. A tua Mãe, aqui, é também minha. Muito bem! Beijinho, querida Amiga.
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