A minha rua é sobretudo cimento
Já não tem árvores e quase não há
Pássaros.
As poucas flores que ali encontro
São baças e curvadas, morrendo
Tristemente
Sobre o alcatrão rodoviário
Como se tivessem medo de crescer.
Eu costumo ir para a varanda
E imaginar que a estrada em frente é
Uma floresta encantada
Com feiticeiras secretas
E que os carros são, passando, barquinhos
Bordejando a praia alegre e fresca
(Uma praia como a que outrora houve
Quando o pai era ainda vivo
E a mãe cantava as canções da rádio
Durante a lida do ledo lar).
À noite finjo confundir o barulho
Dos comboios e do vento
Com marés imaginárias de oceanos mil.
É quase sempre de madrugada
Que nada é tudo
E tudo é nada.
Ribeira de Pena,
12 de Maio de 2015.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi
colhida, com a devida vénia, em http://www.pt.dreamstime.com.]
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