A
morte, como eu a vejo, é sempre estúpida.
Os
mais velhos ensinam-nos que é apenas uma parte da vida, mas a mim foi-me sempre
demasiado difícil compreender essa finitude definitiva, essa irrevogabilidade
das partidas e das separações.
Tudo
se torna ainda mais insensato quando se trata de um jovem, demasiadamente jovem
para partir. Morreram três em Braga, num acidente que (como havemos de dizer?) não
podia ter acontecido. Um deles chamava-se Vasco, tinha 19 anos, era (é) filho, sobrinho,
neto de conhecidos e amigos ribeirapenenses. A MP recorda-se de um rapaz educado,
alegre, inteligente.
Não
me lembrava de um funeral tão concorrido e emotivo como este a que assisti, na
tarde chuvosa e ventosa do dia 25 de Abril. Igreja cheia de gente, exterior cheio
de gente. Gente cheia de comum dor. Entre muitas imagens impressivas, ficou-me
a de um jovem universitário, trajado a rigor, que permaneceu à chuva e ao vento,
a uns vinte metros de mim, durante a hora e meia da celebração religiosa. Ocorreu-me
que o seu rosto molhado seria, em partes iguais, resultado de meteorologia e de
lágrimas.
Dei
um abraço à avó e ao tio do Vasco, e murmurei-lhes o clichê habitual: “Força!
Força!” E, de certo modo, foi também isso que, na homilia, todos ouvimos dos religiosos
oficiantes, com a diferença de que estes, para atenuar o nosso sofrimento, ali descreviam
a morte como “antecâmara da vida eterna” [sic].
Apesar
da minha formação católica, eu não tenho, infelizmente, esta tão convicta certeza
acerca do destino das almas e do paraíso a haver. Mas estou certo desta minha profunda
tristeza e desta minha absoluta solidariedade para com o pai do Vasco, da mãe
do Vasco, dos irmãos do Vasco, da família e amigos do Vasco. É só esse pobre céu
que tenho para lhes oferecer, queridos amigos: estar presente e juntar a minha
dor à vossa. Força!
Ribeira de Pena, 25 de Abril de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
1 comentário:
Só a morte da mina mãe me deixou tão sem vontade de nada.
1 abraço
Arminda Guerra
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