Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O mesmo, essencialmente


Está tudo igual, na mesma, o mundo é essencialmente o mesmo de há dez, cem anos antes de mim. Há as mortes, sim, lágrimas, mas era assim já há dez, cem anos antes de mim e será assim depois de eu sair da frase. O fim havido e a haver é o mesmo agora e antes ou depois de mim, dez ou cem anos. A tristeza de haver fim é a mesma, essencialmente a mesma antes e depois. O próprio mar (de Machico ou outro) que vejo é o mesmo que em 1910 não vi e em 2110 não hei-de ver. É tudo essencialmente igual ao que já foi, ao que há-de ser, ao que é. E eu tenho pena de alguém como eu há cem anos, como talvez alguém há cem anos teve antecipada pena de mim, como talvez alguém em 2110 chorará por mim. Eu choro por mim, por alguém como eu há cem anos e por alguém como eu no futuro, por para estes três eus haver morte. De modo que sou, somos a mesma coisa, essencialmente sempre a mesma coisa, em todos os tempos, isto é, tudo. Isto é, nada.

Machico, 06 de Agosto de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[Imagem colhida na wikipedia, com a devida vénia.]

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