Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ronaldo, talvez pela última vez


Vou ver se, doravante, falo menos no Cristiano Ronaldo. Este textito é só, talvez, um último desabafo.
Revisões: o rapaz é um jogador absolutamente fabuloso. Tem velocidade, força, técnica, habilidade, espírito vencedor.
É, além disso, por muito que os invejosos do planeta inventem rótulos, um moço simples, de bem com a vida.
Em Portugal, alguns portistas não lhe perdoam um golo do outro mundo que marcou durante a Champions, numa das balizas do Dragão. Alguns benfiquistas ainda resmungam secretamente à lembrança de um certo dedo espetado ao alto, em fálica resposta a assobios na Luz. Luís Figo, conhecido em Espanha por "El Pesetero", não lhe perdoa desde 2004 que seja (muito) melhor do que ele. Os catalães odeiam-no por obrigação estatutária.
Mas Ronaldo sobrevive. Vi-o, ao longo de toda a temporada espanhola, jogar como ninguém. Talvez não haja, com a única excepção de Eusébio, quem se lhe compare na história do futebol português.
Acusam-no, agora, de não jogar para a equipa. É como se ralhassem com o Miguel Torga por não ter feito patuscadas com a malta; ou dizer ao Picasso que não é assim que se pinta; ou pedir à Dulce Pontes que não suba muito a voz para não se destacar dos outros.
Ronaldo é um solista, cambada! Que culpa tem ele se a orquestra é má e o maestro é um complexado, um empata-paixões (para não lhe chamar uma coisa mais à mão de dizer)?
Está-se mesmo a ver: vai ser preciso que Kaká, Sérgio Ramos, Rooney, etc. venham lembrar aos portugueses zangados que o número 7 da selecção é um altíssimo e raríssimo jogador para os auto-suficientes pátrios, por um segundo, suspenderem a baba zangada...
Ninguém pergunta ao Queiroz por que levou um jogador vulgar - sem ritmo, sem condição sequer clínica para jogar - ao Mundial (falo de Pepe); ninguém se questiona se valeu a pena queimar uma substituição, tirando (por óbvia exaustão) esse trinco inventado e inviabilizando a possível entrada de Deco; ninguém se interroga sobre o mistério que leva uma equipa com Simão, Dany, Liedson, Meireles, Miguel Veloso e Ronaldo a jogar como uma equipa de terceira divisão a quem, por capricho de sorteio, calhou jogar com os grandes do mundo.
Os estrangeiros ficaram aliviados com o adeus da selecção portuguesa. O motivo é simples: a nossa selecção a jogar à Queiroz meteu nojo! Salvou-se - arrepiai-vos, ó inquisidores do futebol pátrio - Ronaldo, o único que, a espaços, fez coisas diferentes, dignas da primeira divisão do futebol mundial.
Quem prefere não ver o óbvio, que se fique pela bajulice ao senhor professor. Que insulte Deco e Ronaldo (os únicos jogadores de top desta equipa) e santifique a vulgaridade bem comportada de Pepe, Tiago e Simão.
Cristiano Ronaldo teve este azar, semelhante ao de Joaquim Agostinho, Herman José, Miguel Torga ou Amália, de nascer português. O pior de tudo é que o rapaz - como, afinal, os outros nomeados - ama o seu país. Mas neste torrão pátrio parece florescer muito mais a inveja e a cegueira do que a bondade e o bom senso.
Atenção. Eu amo, mais pela literatura e pelas praias do que pelo futebol, esta terra onde nasci. Mas, confesso, tenho orgulho em ver brilhar, num verde rectângulo planetário, um artista como Cristiano Ronaldo.
Meu Deus! Bastaria que, para se evitar este ruído estúpido, os mísseis do rapaz houvessem entrado em vez de esbarrarem no poste! Ou que Jorge Jesus, que tem menos livros do que Queiroz mas sabe de futebol (ao contrário do letrado), tivesse feito o favor de treinar a selecção entre 20 de Maio e o final de Julho... Não é certo que fôssemos campeões; mas jogaríamos bem, sem medo e sem dar cabo da vida e da imagem de um dos melhores futebolistas de sempre.
Diz-me uma vozinha interior, muito prudente: "Joaquim Jorge, é preciso respeitar as opiniões dos outros..."
E eu: "Mesmo as dos burros?"
E a voz: "Mesmo as dos burros."
De modo que eu, agora, encolho respeitosamente os ombros de cada vez que um burro diz mal do Cristiano Ronaldo.

Ribeira de Pena, já 02 de Julho de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem-supra foi colhida, com a devida vénia, no "Correio da Manhã", de 02-07-2010.]

2 comentários:

Calendas disse...

E quem fala assim não é gago e muito menos empata-paixões.

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Olá, Anabela!

O eufemismo é muito lisonjeiro para o Queiroz, não é?

Beijinho.

JJC